O ensino e aprendizagem de português escrito para graduandos surdos durante a pandemia: uma análise de discursos à luz da perspectiva sistêmico-funcional

Abstract

Desde o passado até agora, o processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa para surdos sempre foi alvo de profundas discussões, tendo em mente que, diante desse público no espaço educacional, na maioria dos contextos, diferentes metodologias são pensadas, diretamente, para alunos ouvintes. Considerando a oficialização da pandemia da COVID-19, em março de 2020, pela Organização Mundial da Saúde, inúmeras transformações, tanto por questões socioeconômicas quanto pelas educacionais, aconteceram no Brasil. Devido aos riscos proporcionados pelo novo vírus à saúde, medidas de prevenção foram adotadas, fazendo-se necessário existir distanciamento social, o que colaborou para a mudança do ensino presencial para modalidade remota com o uso de novas metodologias e tecnologias. Diante desse fato, esta pesquisa objetivou analisar os discursos de graduandos surdos matriculados no Ensino Superior, atentando-se, especialmente, ao processo de ensino e aprendizagem da língua, durante o ensino remoto, a fim de refletir sobre as práticas docentes utilizadas para garantia de efetiva aprendizagem. Para tanto, utilizou-se como principal suporte teórico-metodológico a Linguística Sistêmico-Funcional, desenvolvida por Halliday (1994), as legislações referentes à Educação de Surdos, como a Lei no 10.436/2002, o Decreto no 5.626/2005 e as considerações de Barbara e Macêdo (2010), Pereira (2014) e Fernandes (2008). A coleta de dados para análise dos discursos dos aprendizes surdos do Brasil aconteceu por meio de questionário bilíngue desenvolvido com o suporte do Google Forms, encaminhado virtualmente, através do WhatsApp, Gmail e Facebook. Sob uma natureza descritiva de cunho quantiqualitativo (GIL, 2002), a análise realizada manualmente, considerando a metafunção ideacional da teoria-base do estudo, possibilitou identificar três representações distintas sobre o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa como Segunda Língua para surdos na pandemia. Apesar de profundos estudos sobre a Educação de Surdos, assim como amparos legais, pode-se concluir que as práticas didático-metodológicas realizadas na educação de surdos continuam a desconsiderar as especificidades culturais, identitárias, linguísticas e educacionais desse grupo presente no espaço acadêmico, em grande escala.